Meu Irmão:
Dizes ser criado à imagem e semelhança do Senhor da Vida, e afirmas que Ele é Amor: estende-me, então, migalha desse amor.
Nada
te peço além de uma concessão singela: o direito de viver para evoluir
nas formas da matéria. É a mesma que atualmente usufruis.
És a
única divindade que minha consciência conhece; serias meu senhor,
amparando-me como fazem contigo teus Irmãos Maiores. Entretanto, depois
que te sirvo com carinho, exiges meu holocausto.
És uma divindade implacável; porque semeias de dor o teu mundo?
Diante
de meu cadáver que vais sepultar no estômago, transformando-o em
cemitério, a bênção da Vida te abandona, porque a violentaste. A doença e
o desequilíbrio são tua herança, enquanto insistes em decompor meus
despojos em teu interior.
Ainda hoje contemplarás meu humilde
corpo disfarçado em petisco a tua mesa. Olha-me bem: por traz dele
perceberás meu vulto sacrificado, meu olhar de agonia, e meu queixume
dolorido na dor atroz do massacre.
E lembrarás que fui um ser vivo, capaz de sentir, de aprender, de amar!
Sou,
como tu, uma Centelha de Vida — alma que será, um dia, como a tua, na
escalada evolutiva. Dá-me um lugar a teu lado, enquanto sou humilde e
indefeso.
A Terra generosa te oferece o sustento sadio. Rogo-te,
por misericórdia, que não escutes a mentira cruel de que é necessário
devorar-me para subsistir.
Meu sangue inocente derramado
diariamente brada aos Céus contra ti; e nunca terás Paz sobre a Terra,
Irmão Maior, enquanto a mantiveres encharcada de sangue.
Tem compaixão de mim, e o Senhor da Vida te recompensará com o mundo fraterno que sonhas há milênios.
Obrigado, meu Irmão!
Que
Nosso Pai te abençoe. Ofereço-te meu amor, e as dádivas carinhosas de
minha lã, meu leite, meu suor e minha dedicação; de minha lealdade para
te assistir, e minha ternura para te enfeitar a vida.
Sou o Animal,
M. C. Teu Irmão Menor.
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